sexta-feira, 7 de maio de 2010

Como não?

  Como não consegue ver? Como não consegue perceber? Como não consegue SENTIR?

É como se eu estivesse nesse barco sozinha, sem companhia, sem ninguém pra me apoiar caso o barco naufrague. Preciso de alguém. Alias, não preciso de um alguém, preciso de você. 
Será isso tão difícil de entender? Será isso tão difícil de aceitar? Pois eu não consigo ver o mau nisso tudo. O mal posso ser eu mesma, o mal pode ser o meu ato, palavras ou até mesmo a falta da palavra certa quando necessário. Com clareza nesse momento não consigo chegar a qualquer conclusão, mesmo eu sabendo que a conclusão é você, tudo que vem de você, mesmo havendo erros não solucionados, mesmo assim, com todos os problemas na minha mente só existe você. Você, com tantos pontos de interrogação conseguiram ser o centro da minha atenção, o único que eu penso em todos os momentos, ruins ou bons, e mesmo não estando ao meu lado, sabe que está em algum lugar está, por mais distante que seja (mesmo eu sabendo que nesse caso a distância seja o ponto crucial), eu sei que está pensando em mim,  está comigo... E sempre estará... espero!

As coisas mudam e assim também as vontades

As ausências justificam-se e até se aceitam quando se percebem... Nada magoa mais, nada provoca mais sofrimento, tensão e ansiedade do que o desconhecimento, a ignorância, o não entendimento do porquê de uma súbita alteração de comportamento, de uma abrupta ausência e total rompimento.. As coisas mudam e assim também as vontades, nada mais natural, o que apetece hoje, amanhã enjoa, mas suplica-se apenas uma explicação, pelo menos em nome de um qualquer respeito outrora existente, não numa imposição de seja o que for, mas numa simples tentativa de compreensão para apaziguar uma alma que não tranquiliza enquanto não perceber onde se deu o erro....

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O amor..

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré.
Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte. 

About me

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"Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você. "